RUMO AO PLANETA GARGALHADA

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Os Melhores do Mundo,
para a Coleção Brasilienses

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Fala, Adriana Nunes


Entrevista da Adriana para o Correio Braziliense de domingo =)


Ela é rainha no meio dos cinco marmanjos da Cia. Os Melhores do Mundo. Faz teatro desde menina para enfrentar a timidez e os rótulos. Agora, depois da repercussão avassaladora no humorístico Zorra total, onde interpretava Juju, a mulher cobiçada de Jajá (Welder Rodrigues), e dos vídeos com 1 milhão de acessos no YouTube, ela segue em turnê, mas ganha poucos dias de descanso. Quando para, quer mesmo é ficar com os filhos, fazer artesanato, curtir Brasília e ler muito.
» JOSÉ CARLOS VIEIRA E SÉRGIO MAGGIO

Você se diz tímida, como é que o teatro te ajudou a reduzir essa timidez?

Comecei com 9 anos num grupo teatral de igreja, que era do Movimento Eureka, o qual também fazia apresentações no circuito, como o Galpãozinho. Minha mãe foi da primeira turma da Faculdade Dulcina de Moraes, não chegou a se formar, mas já fazia teatro. Por ser muito tímida e a escola sempre muito cruel, fui colocada fora dos padrões tanto de beleza quanto financeiro. O teatro me serviu muito como afirmação e me agarrei nele, colocando-o sempre em destaque. O teatro me tirava do fundo.

Você se acha bem humorada?

Eu não, sou mal humorada (risos). É uma luta comigo mesma para melhorar meu humor. Acho que melhorei muito.
Sempre tem aquele fã que te aborda e pede para contar uma piada. Como você faz?

Retribuo o carinho. E a melhor manifestação que a gente tem é a dos fãs. Nesse ponto, a tevê trouxe uma coisa muito interessante, o carinho do público infantil.
Você se assustou com o sucesso da Juju, no Zorra total?

Me assustei. Não esperava uma coisa assim. A gente foi com um outro projeto. A Juju fazia parte do secundário, mas foi o que deu certo.
Muitos criticam o modelo de Os Melhores do Mundo. Dizem que vocês não fazem teatro. O que acha disso?

Como estou desde o início trabalhando sempre com esse gênero, desde a faculdade, eu enfrentei esse preconceito muito forte. Não dentro da faculdade Dulcina, que sempre me apoiou, todos os professores acharam o máximo. As críticas vinham de alguns professores da UnB e intelectuais que rotulavam a gente de teatro comercial. É um comércio, não deixa de ser um produto que a gente vende. Mas desde o início, sempre foi esse gênero que a gente apostou. A companhia se propõe a levar diversão, fazer as pessoas rirem, o entretenimento. Eu acho que é teatro. A imprensa do Rio e de São Paulo não nos encaixa em lugar nenhum. Não temos abertura nenhuma, não sei se é porque eles não veem o nome do “autor da obra”, o nome do texto… Muita gente diz ‘vou lá no show’, acho também que é teatro, porque tem todos os elementos cênicos.

Qual a sensação de estar no palco e fazer todo mundo rir?

Você poder se comunicar com 1.800 pessoas e elas te respeitarem é uma sensação de poder, no bom sentido. A gente foi aprendendo. Muitas vezes, erramos na relação com o público. A gente teve de aprender com o próprio jeito de brincar com a plateia.
Dizem que vocês ensaiam até improviso. É verdade?
Alguns improvisos são mantidos, eles nascem do improviso e são mantidos em todas as apresentações.

Nos espetáculos de Os Melhores do Mundo, há a sensação de que vocês têm o público na mão, como se fosse numa partida de
futebol. Tem uma fórmula para esse casamento tão perfeito entre vocês e o público?


A divulgação ocorrida com ajuda da internet provocou uma grande curiosidade pela peça. As pessoas assistem parte na internet e pagam para ver ao vivo. Para nós, a internet serviu como aliada.
O mundo do humor é machista. Como você marcou seu território numa companhia predominantemente masculina?

O valor de cada um não está só em cena, por trás de cada um tem uma história. Comecei a observar que o machismo está em tudo, na televisão, no cinema. Existem mais papéis masculinos que femininos.

Na companhia, você também exerce a função de figurinista.

Eu cuido de toda a parte de objetos, figurino, produção. Arrumo todas as malas de cada espetáculo, vou checando tudo.
Como é o processo criativo do grupo? Há divisão de tarefas? E a divisão do dinheiro?

A criação é sempre muito agradável, nada surge como obrigação, as coisas aparecem muitas vezes de brincadeiras de camarim. Depois de surgida a ideia, Victor, Jovane e Siri, geralmente, vão e escrevem o texto. Quanto a divisão do dinheiro, resolvemos dividir por igual. Somos oito: seis atores, o diretor técnico e o produtor. Tudo é dividido por oito.
Qual foi a cena mais insólita que você presenciou durante uma apresentação?
Na peça Misticismo, durante uma apresentação em São Paulo, a gente falou de uma igreja e a pessoa levantou — ela estava na primeira fila — e vaiou a piada enquanto todo o público estava aplaudindo, mas ele teve coragem de defender o seu bispo.

Algum dia você imaginou que, fazendo teatro em Brasília, vocês tomariam conta do Brasil?

A intenção de sair de Brasília sempre foi forte. Eu não esperava que fosse tão difícil como foi. Achava que a gente ia estourar, mas a gente não vingava.
Culpa de quem? Por sermos de Brasília. Há um preconceito muito forte e isso a internet quebrou. E isso eu sinto até hoje com relação às
pessoas de lá. Foi muito difícil. Mas insistimos.

O bom é que vocês nunca perderam a ligação com a cena daqui.

Eu perdi muita coisa da cidade, mas o Welder e o Pipo acompanham mais, até pelo Jogo de Cena e pelas apresentações.

Mas quem você destacaria?

Eu continuo destacando todos os “das antigas”, como os Guimarães, Pedrancini, Zé Regino, Ricardo Guti... As pessoas que continuam trabalhando bem. Os novos, gosto muito do
pessoal da comédia que surgiu muito forte, porque foi caminho deixado pela gente. Gosto muito do pessoal do De 4 Naipes.

Quando você não está na tevê, não está no palco ou cuidando das crianças, o que gosta de fazer?

Faço artesanato e gosto de ler bastante.
Lá fora, quando se fala em Brasília, todos se referem ao jogo sujo da política. Isso te incomoda?

Eu saio em defesa de Brasília sempre, fico arrasada, ofendida, compro briga por causa disso. Há um preconceito muito grande da cidade por causa da política. E algumas coisas se transformaram em verdade, como ‘Brasília é fria, não tem esquina, não acontece nada’. As pessoas nunca vieram aqui, não sabem nada da cidade e ficam criticando. Eu tomo sempre o partido de Brasília.
Quais são suas melhores lembranças da cidade?

Eu adoro tudo que está acontecendo aqui. As minhas melhores lembranças são em relação aos espaços de Brasília. Sempre que vou à Torre as minhas lembranças da infância afloram, como as idas à Igrejinha. O Parque da Cidade, as superquadras, o Eixão, tudo lembra a minha Brasília.

Molière ou Os Trapalhões?

Os Trapalhões (risos). Estou assistindo de novo aos caras e mostrei para as crianças. Como era bom!
Como é fazer humor numa sociedade às vezes chata, que finge ser politicamente correta?

Não adianta. O humor precisa ser politicamente incorreto. Caso contrário, não funciona. A gente tem de brincar com as coisas.

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