RUMO AO PLANETA GARGALHADA

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Os Melhores do Mundo,
para a Coleção Brasilienses

domingo, 8 de abril de 2012

“chulos, grosseiros e politicamente incorretos”.

1a Edição


08 de abril de 2012
Por: Rodrigo Brandão e Cacá Esteves
Fotos: Carvalho Studio
13/11/2008

Os Melhores do Mundo: Caráááááááái

A máxima de que o humor é efêmero diante da dependência de criatividade é desmoronada por seis brasilienses das mais estimadas procedências. Pipo, Siri, Adriana (Juju), Welder (Jajá), Jovane e Victor são os protagonistas das gargalhadas incessantes em Hermanoteu na Terra de Godah: quatro espetáculos com ingressos esgotados no Pedro II, em Ribeirão Preto.

A entrevista foi marcada por muita simplicidade e piadas, é claro, minutos antes do início do espetáculo que mostra a saga de um hebreu em busca do último conterrâneo preso no Egito. Os Melhores do Mundo são adeptos do humor inteligente, socialmente crítico e de extrema criatividade. “Véi”, acompanhe este bate-papo exclusivo e entre no bom humor imprescindível para uma boa boemia.

Rodrigo: Por que Os Melhores do Mundo?
Victor Leal: Eu acho que é uma grande brincadeira.
Adriano Siri: Eu não acho [risos].
Victor Leal: Queríamos um nome que indicasse uma companhia de comédia, não de teatro. Obviamente, não somos os melhores do mundo. Mas o PFL é chamado de Democratas, então tudo bem.
 
Cacá: Com a internet, as piadas não perdem a graça?
Victor Leal: Nada substitui o teatro, o “ao vivo”, que permite um improviso, uma sacanagem com a platéia. Quem ouve uma música, gosta de tal artista, empolga-se para assistir ao show. Você quer ver o artista se apresentando ao vivo.
Adriano Siri: É mais ou menos como foi com o DVD: lançamos o trabalho e as pessoas continuam indo ao teatro. A internet é um veículo realmente popular, democrático, sem censura. Quem é fã de internet vê que coisas diferentes acontecem na mesma cena. É isso que motiva a pessoa a ir ao teatro.
 
Rodrigo: No próprio Hermanoteu que está no site youtube.com tem uma brincadeira com um neném...
Victor Leal: Sim. Isso foi lá em Brasília. O Jajá [Welder Rodrigues] mandou muito bem na resposta. O Jacaré Banguela, que é um site de humor, estava lá filmando naquele dia, editou, colocou legenda e soltou na internet.
 
Rodrigo: Então foi o Jacaré Banguela que começou com essa coisa de internet em relação a vocês?
Adriano Siri: Digamos que eles foram responsáveis por um momento especial do grupo. Quando fomos ao Jô, em 2006, pela segunda vez, e apresentamos o Joseph Klimber, foram eles que postaram a cena na internet, sem nos consultar, sem pedir permissão. Eles não nos conheciam e nem nós conhecíamos o Jacaré.
Victor Leal: Pronto: virou um fenômeno viral, com mais de 20 milhões de acessos e deu um impulso muito grande para o grupo. Deixamos de apresentar para poucas pessoas, em teatros pequenos, e passamos a ser conhecidos no Brasil inteiro, uma projeção que a própria televisão nunca tinha nos dado.
 
Rodrigo: Você disse que foram ao Jô pela segunda vez em 2006. Quando foi a primeira?
Adriano Siri: Em 2002. Mostramos uma cena do Notícias Populares. Mas naquele tempo não tinha o youtube.com.
 
Rodrigo: Quem faz os textos de vocês?
Adriano Siri: Todos nós fazemos, mas o Victor e o Jovane são os mais engajados na redação.
Victor Leal: Na verdade, a criação é coletiva. Vem tudo de bate-papo de camarim, aeroporto, hotel. Como passamos muito tempo juntos, muitas idéias surgem assim. E aí, por sermos alfabetizados, passamos para o papel.
 
Rodrigo: O Casseta&Planeta, no início, estava mais focado em sátira política. Já o Pânico banaliza em cima das celebridades. Como vocês definem o humor de vocês?
Victor Leal: Eu vejo nosso humor com um grau de crítica social grande. Pelo fato de não estarmos na televisão, nós conseguimos, toda semana, fazer uma coisa diferente. O teatro permite aprimorar. No Hermanoteu, por exemplo, um fato improvisado, que funcionou, é automaticamente incorporado. O teatro tem este tempo de maturação do espetáculo, diferente da televisão. Sobre o Pânico, eu também não gosto muito dessa coisa de sacanear as pessoas. Isso acaba jogando a graça para a pessoa e não para o humorista, que, na verdade, tem de ser a válvula de escape da sociedade. Cabe a ele falar tudo, criticar, colocar o dedo na ferida. O trabalho do humorista é ser o errado, ser o tonto, é levar tapa na cara. Quando você transfere isso para outras pessoas, quando ela é o palhaço e não você, isso descaracteriza o papel do humorista.
 
Rodrigo: A tradução literal de paródia seria canto paralelo, ode paralela. Hermanoteu é uma paródia bíblica. O teatro permite um humor mais inteligente do que o da TV?
Victor Leal: Eu acho que, como é que fala...
Adriano Siri: ... Fala aí qualquer coisa [risos].
Victor Leal: No teatro, você não tem patrão. A TV é muito limitadora. Não pode falar de política, não pode fazer humor negro, e nós fazemos humor azul-marinho [risos]. Na TV você tem de ser politicamente correto e aí o humor fica uma grande chatice. Aliás, o humor, em geral, vem caminhando para o politicamente correto. Veja o humor infantil. O Cascão não toma banho, o Cebolinha fala errado. São personagens quase inviáveis hoje. O Klimber é humor negro, o 10 de Setembro é humor negro. Fizemos um curta-metragem, nossa primeira experiência em cinema, todo falado em Russo. Foram dois meses de aula para a realização do trabalho. Se fizéssemos o “embromation”, a piada não seria tão elaborada. O curta pode até passar na Rússia, sem legenda. Mas nós não poderemos estar na platéia, pois é uma alusão ao naufrágio do submarino Kursk, quando os tripulantes, sem alternativa, ficaram esperando a morte.
 
Rodrigo: E esse trabalho, com certeza, sofre o problema de todo curta: a veiculação.
Victor Leal: A internet talvez seja a saída.
 
Cacá: Em duas palavras, por que vocês são diferentes?
Adriano Siri: É porque, pronto, acabou [risos].
Victor Leal: Não somos diferentes. Nós soubemos tirar proveito da internet. Poucos artistas no Brasil usaram tão bem a rede como nós. Não somos pessoas conhecidas. Saímos na rua e não nos reconhecem, com exceção do Welder e do Jovane, que tiveram uma exposição maior na TV. O grupo tem hoje um certo prestígio por conta da internet. Somos um grupo de teatro e de internet. Agora mesmo, eu estava no restaurante do hotel e o garçom me disse: “sou fã de vocês, nunca fui ao teatro, mas vejo tudo de vocês na internet”. A molecada, por exemplo, é muito ligada nessas ferramentas. Uma coisa é o crítico de teatro escrever no jornal que gostou da peça, outra é alguém lhe enviar um e-mail, “cara, vê aí... eu ri demais... kkkkkkkk... é muito louco”, já com o link. E as pessoas acessam. É um marketing viral. Existe uma instantaneidade.
Adriano Siri: A internet não é responsável pelo sucesso, mas foi o que realmente nos projetou.
Victor Leal: Claro.
Adriano Siri: Nós sempre trabalhamos com afinco, com muito profissionalismo, gostamos muito do que fazemos. Procuramos que tudo seja muito bem-feito, participamos de todas as etapas: cenário, figurino, produção, sonoplastia. Agora, por que o grupo é bom, em duas palavras? Fica difícil [risos].
 
Rodrigo: A crítica específica de teatro é favorável?
Adriano Siri: Não. Aliás, a Barbara Heliodora [crítica do jornal O Globo] fodeu com a gente.
Victor Leal: Ela afirmou que somos “chulos, grosseiros e politicamente incorretos”. Para mim, ser politicamente incorreto é um elogio.
Adriano Siri: A questão não é nem essa. Nós simplesmente não existimos. Para a crítica intelectual de São Paulo, nem existimos. Já nos perguntaram se ficamos chateados com isso. Claro que não. Não mexemos no que está dando certo. Acho melhor não colocar nossa cara em lugar nenhum.
Victor Leal: Em Fortaleza, mais de 4.200 pagantes, em uma noite.
Adriano Siri: Em Manaus, Belém, 2.500 pessoas.
Victor Leal: Em Brasília, nossa terra, a mesma coisa.
 
Rodrigo: Então dá mais público que nos jogos de Gama e Brasiliense?
Adriano Siri: [Risos] Com certeza.
 
Cacá: Até uma temporada no exterior vocês fizeram?
Victor Leal: Sim. Estivemos em Portugal, em abril. Estamos voltando para lá agora em novembro. Tudo por conta da internet. Não há fronteiras.
Adriano Siri: É engraçado isso. Acho que esse proveito da internet é um fato sem precedente na história do teatro brasileiro. E as pessoas ainda não conseguiram categorizar, conceituar o grupo. É um show de humor ou o quê? Tem texto, luz, som, produção, figurino, atores. E público. Isso é teatro, queira a crítica ou não.
Victor Leal: Em São Paulo, no Citibank Hall, em abril, colocaram assim na programação: especial.
Adriano Siri: Ainda não conseguiram categorizar Os Melhores do Mundo.
 

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